(...)Um impulso dominante ao nos depararmos com a beleza é o desejo de nos agarrar a ela: possui-la e conferir-lhe peso em nossas vidas. Sentimos a necessidade de dizer: ‘eu estive aqui, vi isso e foi importante para mim.’
Levando em conta que, de fato, o momento seja único, percebo que o turista moderno faz do clique o seu próprio passo e do registro da paisagem o seu olhar. Para ele, nada pode escapar de sua mira. Sem notar, o olhar também se automatiza, pois o tempo de observação se restringe ao da captação da imagem. E o forasteiro segue sua artilharia de pixel.
Se assim for, bloqueio, portanto, a carga emocional que transfiro ao espaço onde estou. Minhas desilusões, vitórias, amores e perdas: tudo está na paisagem, no detalhe arquitetônico de um prédio, na ruína esquecida ou nas pessoas que cruzam o meu caminho. Eu também sou a paisagem, por isso, ela merece tanta atenção.
“Podemos muito bem ver a beleza apenas abrindo os olhos, mas sua sobrevivência na memória depende de quão intencionalmente a apreendemos.”
Envolvida pela volatilidade do meu olhar, corro o risco de esquecer que nesta odisseia pessoal tenho a chance de me conhecer, já que não estou acomodada no meu meio ambiente. Saio de uma viagem sabendo muito mais de mim do que sobre o local que visito, pois este mantém suas fronteiras definidas e, quase sempre, estanques. Aqui dentro, territórios são anexados, pontes são interrompidas e estradas são construídas. Uma geografia inconstante e permanente. Preciso me conhecer e estar inteira para também saber onde estou.
A viagem não se basta, ela é um processo de translação e intersecção. Eu viajo a algum lugar e lá percorro outros caminhos dentro de mim, fazendo despertar novos trajetos mentais e afetivos. E, quando retorno ao meu lar, já sou outra, assim como o espaço que me rodeia (...).
(daqui)
Hoje estou uma copiadora mor. Mas em tempos modernos, o que é bonito é pra ser compartilhado, né?!
Have a nice day! =D
Ilustração da Bellen Segarra |
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