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Bird

O que falar de mim? Eu sou uma idealista de plantão. Sempre falei baixinho e sonhei alto. Sonhei com uma sociedade correta, respeitosa, que tivesse consideração pelos demais. Defendo a honestidade e sempre acreditei que o ser humano é intrinsecamente bom. Para cada má ação, inventava mil justificativas, desde a baixa autoestima à falta de amor. Mas hoje eu sei que não é por ser mau, que o ser humano erra. É por experiência. E como ninguém é perfeito, aprendi que quanto mais abandonada às traças, maiores as chances da sociedade se deixar levar.

Difícil enxergar isso, tendo estudado Jornalismo na PUC. Eu era tão de Esquerda que era quase a favor do anarquismo. Tá certo que fiz pós em Economia na USP e comecei a entender alguns argumentos da Direita, mas sempre tive um "pezinho" no socialismo. Naquele utópico, que nunca existiu. Pois bem, o tempo passou e passei a entender que a sociedade precisa de governo sim, de ordem, mais do que isso, precisa de um olhar atento e vigilante, já que o "eduquem as crianças e não será preciso castigar os homens" não vai rolar nem na geração Z.

Isso despertou uma grande crise de valores nessa minha cabecinha que não pára de filosofar. Foi então que abandonei a minha vidinha habitual e fui estudar Design Digital na terra do trono da rainha. Uma vez lá, achava estranho um país com um Estado tão forte e centralizador, ter indivíduos tão livres de pensamento!

-- Parênteses--
Isso me fez lembrar de uma aula do meu curso vocacional... era uma atividade que discutia o futuro do país. Do alto da sabedoria dos meus 17 anos, achava assombroso que, entre 20 participantes, apenas três acreditassem que o Brasil tinha jeito. Eram 3 mulheres, e claro que eu era uma delas. No final da aula, por termos apresentado "melhores argumentos", nós três ganhamos um bolo cada uma. Disseram que era só nosso, por mérito. Os outros não ganharam nada. Pois as orientadoras nem bem saíram, cortei o meu em várias fatias e ofereci a todos. Fiquei me sentindo "a subversiva". Mas era só mais um teste! Fui a única que defendeu a sociedade igualitária na teoria e, na hora do "vamovê", dividiu o próprio bolo. Era pra ficar orgulhosa, né?! No fundo, fiquei triste...
-- Fecha Parênteses--

Claro que foi só um jogo, mas serve de ilustração. E diga-se de passagem, tenho certeza de que tem muito mais gente gentil do que egoísta no mundo. Elas só estão um pouco anestesiadas. Aliás, é mais ou menos isso que senti quando criei este blog...

Minha mãe sempre contava a estória do passarinho que queria apagar o incêndio na floresta e levava água, de gotinha em gotinha, no seu bico. Ele não apagaria o incêndio, mas estava fazendo a sua parte! Aqui no Brasil, o que mais me dói é ver um monte de passarinho carregando água, enquanto outros, descrentes, ficam ali no fogo, dançando e colocando ainda mais lenha nas labaredas. 

A impunidade deve ser mesmo o mal da nossa sociedade. Virou terra de ninguém. Aliás, nossos heróis portugueses viraram motivo de chacota desde que desembarcaram fugidos por aqui. Aprendemos a rir pra não chorar. E no mais, salve-se quem puder.

Enxergar tudo isso sem a lente adolescente, que tudo pode, é estarrecedor. Mas não me arrependo de tê-la usado um dia. Não fosse por ela, talvez não buscasse outros caminhos. O idealismo que hoje me sufoca é o mesmo que me levou até as terras gélidas do norte. Justo eu, que nunca gostei de frio.

Por ora, perdi as forças. Parei de lutar. Fiquei apática. Congelei. O nome deste blog é frozenbird, porque é assim que me sinto enquanto o processo de imigração não se desenrola. Parece que estou parada no tempo, esperando as estações passarem. Quando chegar o verão, espero ter asas pra voar bem longe e voltar a sonhar.


12 comentários:

  1. Finalmente parei para ler essa parte! ^^
    Nossa que historia! Fui ficando meio deprimida no final. Descongele!
    Me identifico um pouco com essa coisa de se sentir sozinha/diferente, não em questões politicas ou ideologicas, mas em outras areas da vida. Enfim... Achei bonitinha a historia do parenteses. você é mesmo igualitária =)

    Bjos
    Ela.

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    1. Puxa, não tinha visto o seu comentário aqui, só hj! :O
      Já viu que eu sou um pouquinho dramática, né?! Mas aos pouquinhos estou descongelando... rsrs

      Cada vez que conheço alguém bacana por esses caminhos virtuais, meu coracaozinho fica agitado, querendo acreditar de novo! Como viver sem acreditar no ser humano? Sem acreditar que podemos ser melhores? O que mudou é que agora quero lutar ao lado de quem também acredita. Acho que o único sentimento capaz de impedir o homem de avançar é a desesperança!

      O Canadá foi a saída que encontrei pra tentar ser melhor. Respeito todo mundo que está nessa busca, mesmo que encontrem outras saídas. Mas admiro mesmo aqueles que o fazem com humildade e generosidade. Humildade para aprender sempre, com qualquer um. E generosidade para dividir o bolo, sabendo que comer um bolo inteiro sozinho não tem a menor graça. A verdade é que sempre podemos fazer mais pelos outros, e por nós mesmos...

      Eu, por exemplo, preciso aprender a ser mais sucinta! (heheh)
      Beijão!

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  2. Opa!

    Eu ainda não tinha visto essa parte do seu blog... Adorei!

    E me identifiquei bastante, apesar de não ter tido a chance de começar a entender nem um pouquinho dos argumentos da direita. Tenho os dois pés no socialismo, aquele utópico. ;)

    Bem, não é todo mundo que tem coragem de dizer com todas as letras, mas... Sim, também estou procurando um lugar onde eu possa lutar pela igualdade junto com pessoas que querem o mesmo que eu. Infelizmente esse lugar não é o Brasil. Eu olho para a nossa cultura e vejo tanta coisa errada, Dea, que me bate um desânimo profuuuundo. E essas coisas erradas por aqui, muitas vezes não são erradas em outros lugares, ou são "menos erradas" e eu fico me perguntando por que não conseguimos acertar...

    Uma vez, li em algum lugar desse Internetão de meu deus que "somente aquele que se sente estrangeiro em seu próprio país consegue se adaptar a viver no país alheio". Acho que esta sou eu. :)

    Beijos,
    Lidia.

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    1. Pois é... me sinto exatamente assim, "estrangeira" no meu País... por isso aquele argumento de que o Canadá nunca vai ser a "sua Terra" não cola comigo. Eu amo o Brasil, mas não são as fronteiras que definem onde pertenço, são os comportamentos. E eu tô sobrando por aqui!

      É bom saber que vc tbm se sente assim. Tá vendo, são as afinidades às quais sempre me refiro...#adoro!

      Beijão pra vc! ;)

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  3. Oi Dea

    Tenho lido bastante o seu blog, mas nunca havia comentado nada (é sempre assim né).
    Tenho me idenficado bastante com os seu pensamentos e tenho tirado muitas idéias do seu blog também...
    Adorei a frase da Lidia, super verdade! Me sinto um peixe fora d'água aqui no Brasil. Faz tenho que não consigo mais aceitar as coisas como elas são, mas me sinto frustrada porque tá muito longe de mudanças significativas acontecerem. Por isso também decidi em tentar uma vida melhor no Canadá.

    Beijão e tudo de bom pra vc!

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    1. Oie!

      Que bacana que resolveu escrever, agora também posso acompanhar você! =D
      A frase é ótima mesmo, define bem essa sensação do imigrante!
      Fico feliz que tenha tirado ideias daqui... e no mais, vamos seguindo, até a nossa hora chegar (de imigrar, claro!) rsrs

      Beijão!

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  4. Nossa, é exatamente o que eu sinto!

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    1. Oi Thalita! Que bacana que se identificou! ˆ-ˆ

      Também pretende voar pra longe?

      Bjs!

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  5. Olá Dea!
    Vagando por esse "Internetão de meu Deus" (usando as palavras da nossa amiga Lidia) acabei parando aqui no seu blog Dea. Estou impressionando com a sua clareza de ideias e sabedoria.

    Em breve estarei no Canadá também (espero que essa greve da PAFSO acabe logo para que seja realmente breve). Ainda estou longe da sua maturidade e conhecimentos para decidir exatamente o que fazer, mas estou bem busca e vou lutar para conquista-la.

    Obrigado por compartilha boas ideias.

    Thiago

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    1. Oi Thiago!!!

      Puxa, obrigada pelo seu comentário! Não me sinto tão "madura" e "sábia" assim, mas fiquei feliz em ouvir que você gosta das minhas ideias e dos meus posts =)

      Por outro lado, confesso que eu sou um pouquinho tendenciosa, acho que quem quer vir pro Canadá já está no caminho certo, o resto a gente aprende por aqui. (rsrs)

      Boa sorte pra nós!!!

      Abraços!!!

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  6. Gostei muito de ler parte do seu blog e saber um pouco de vc!
    Espero que, apesar do frio que tem vindo com tudo esse ano, esteja menos "frozen"…. Um super 2014 e continue com seus sonhos, seus projetos… afinal sao essas coisas que dao energia a vida… bjs

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    1. oiiii... obrigada! Também espero que 2014 venha aquecer esse meu coraçãozinho gelado! Obrigada pela torcida!
      Beijos!

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