Pois bem, nem uma coisa, nem outra. Tenho momentos de muita alegria aqui no Canadá, instantes em que eu olho pela janela e me pergunto: "jura mesmo que estamos aqui?". Saio nas ruas, encapotada porque o frio não está pra brincadeira, e a brisa gelada aquece minha alma de um jeito que eu nem sei explicar. Vira e mexe me pego sorrindo, andando a esmo, como se eu não precisasse de mais nada na vida.
Mas é óbvio que, como ser-humano-condicionado que sou, tenho várias noites de angústia, com medo do dinheiro faltar, de ficar muito tempo fora do mercado de trabalho, de me arrepender de ter feito tanto curso ao invés de já ter acabado um mestrado, de adiar muito pra ter filho e acabar não conseguindo mais (ou desistindo da ideia), de ficar doente e ir a falência aqui no Quebec, enfim... tudo isso que passa pela cabeça da gente quando temos muito tempo pra pensar na vida.
A verdade é que eu não tenho controle sobre o que está por vir. Por mais que eu faça e refaça tabelas, o meu pedido de exames médicos vai chegar quando chegar. Ligar mais de 100x por dia pra tentar descobrir o que está errado, como eu fiz na semana passada, não vai resolver o problema. Ainda que alguém me atendesse ou respondesse meus emails, seria bem capaz que eu ouvisse um retumbante: "agora é só esperar...".
*parênteses: pra não dizer que não consegui falar com ninguém, quando mudei o ramal a Adriana atendeu e me confirmou que o email estava certo, que não enviaram mesmo. Agora o resto é só com a Maura. Maura me ajuda!!! (Vou criar outra comunidade dessas, agora pra nossa santa Maura de cada dia... seria um sucesso de público! #orkut).*
Enfim! A conclusão disso tudo é que a conclusão é uma ilusão. Ou como diz a Eliane: "Acho impressionante a quantidade de adultos pedindo um final feliz para as suas vidas, para suas histórias de amor, para o sucesso profissional. Não há nenhum mistério no final. Independentemente do que cada um acredita, o fato é que no final a vida como cada um a conhece acaba. Para viver, o que nos interessa não são os pontos finais, mas as vírgulas. Os acontecimentos do meio, o enredo entre o primeiro parágrafo e o último."
E assim a vida segue, nunca exatamente como a gente gostaria que fosse, mas com as suas coisas boas e suas coisas ruins. Pelo relato dos imigrantes, acho que eles concordam comigo, nem o Canadá é "só bom", a vida não vira um comercial de margarina quando o passaporte chega, quando o primeiro emprego acontece, quando a cidadania é conquistada, quando o mestrado acaba... ela segue imperfeita como é, ad infinitum... o que é, senão a imperfeição, que gera o movimento, que gera, por assim dizer, a ânsia pela vida?!
A minha vida hoje é esperar pelo pedido de exame médico, mas é também fazer faxina, ir ao mercado, tentar implacar uma reeducação alimentar, escrever no blog e viajar de vez em quando, mesmo que seja num texto, como esse da Eliane Brum.
Aliás, aqui vai mais um copy and paste exponencial, porque a vida é feita disso também: "Um delirante Noel, assustado com a proximidade da morte e disposto a retomar a alegria, sacode na rua o personagem de Emiliano Queiroz, gritando: “Hoje é sábado, hoje é sábado”. E o comprador de coisas que já perderam o sentido diz a frase antológica, digna de um frasista como Nelson Rodrigues: “O sábado é uma ilusão”. Sim, o sábado é uma ilusão. Então, lembre de viver também de segunda a sexta."
Au revoir!
powderpuff blue por jaki good |