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domingo, 27 de outubro de 2013

Nada é só bom... nada é só mau!

Estava relendo um texto da Eliane Brum (Nada é só bom) e acho que serviu bastante para este momento da minha vida. Tem quem veja as minhas fotos, essas da última viagem, e pense que estou numa boa, afinal já estou no Canadá (meu desejo-mor) e que se eu reclamar, estou reclamando de "barriga-cheia". Outros, que sabem da minha angústia e ouvem meus lamurios no CBQ, já que o meu processo foi esquecido sozinho em alguma mesa do consulado, provavelmente a mesma que sustenta o ramal 4343 e da qual, portanto, ninguém se aproxima,  devem desconfiar que essa minha felicidade é fake, pra inglês ver!

Pois bem, nem uma coisa, nem outra. Tenho momentos de muita alegria aqui no Canadá, instantes em que eu olho pela janela e me pergunto: "jura mesmo que estamos aqui?". Saio nas ruas, encapotada porque o frio não está pra brincadeira, e a brisa gelada aquece minha alma de um jeito que eu nem sei explicar. Vira e mexe me pego sorrindo, andando a esmo, como se eu não precisasse de mais nada na vida. 

Mas é óbvio que, como ser-humano-condicionado que sou, tenho várias noites de angústia, com medo do dinheiro faltar, de ficar muito tempo fora do mercado de trabalho, de me arrepender de ter feito tanto curso ao invés de já ter acabado um mestrado, de adiar muito pra ter filho e acabar não conseguindo mais (ou desistindo da ideia), de ficar doente e ir a falência aqui no Quebec, enfim... tudo isso que passa pela cabeça da gente quando temos muito tempo pra pensar na vida.

A verdade é que eu não tenho controle sobre o que está por vir. Por mais que eu faça e refaça tabelas, o meu pedido de exames médicos vai chegar quando chegar. Ligar mais de 100x por dia pra tentar descobrir o que está errado, como eu fiz na semana passada, não vai resolver o problema. Ainda que alguém me atendesse ou respondesse meus emails, seria bem capaz que eu ouvisse um retumbante: "agora é só esperar...". 

*parênteses: pra não dizer que não consegui falar com ninguém, quando mudei o ramal a Adriana atendeu e me confirmou que o email estava certo, que não enviaram mesmo. Agora o resto é só com a Maura. Maura me ajuda!!! (Vou criar outra comunidade dessas, agora pra nossa santa Maura de cada dia... seria um sucesso de público! #orkut).* 

Enfim! A conclusão disso tudo é que a conclusão é uma ilusão. Ou como diz a Eliane: "Acho impressionante a quantidade de adultos pedindo um final feliz para as suas vidas, para suas histórias de amor, para o sucesso profissional. Não há nenhum mistério no final. Independentemente do que cada um acredita, o fato é que no final a vida como cada um a conhece acaba. Para viver, o que nos interessa não são os pontos finais, mas as vírgulas. Os acontecimentos do meio, o enredo entre o primeiro parágrafo e o último."

E assim a vida segue, nunca exatamente como a gente gostaria que fosse, mas com as suas coisas boas e suas coisas ruins. Pelo relato dos imigrantes, acho que eles concordam comigo, nem o Canadá é "só bom", a vida não vira um comercial de margarina quando o passaporte chega, quando o primeiro emprego acontece, quando a cidadania é conquistada, quando o mestrado acaba... ela segue imperfeita como é, ad infinitum... o que é, senão a imperfeição, que gera o movimento, que gera, por assim dizer, a ânsia pela vida?!

A minha vida hoje é esperar pelo pedido de exame médico, mas é também fazer faxina, ir ao mercado, tentar implacar uma reeducação alimentar, escrever no blog e viajar de vez em quando, mesmo que seja num texto, como esse da Eliane Brum.

Aliás, aqui vai mais um copy and paste exponencial, porque a vida é feita disso também: "Um delirante Noel, assustado com a proximidade da morte e disposto a retomar a alegria, sacode na rua o personagem de Emiliano Queiroz, gritando: “Hoje é sábado, hoje é sábado”. E o comprador de coisas que já perderam o sentido diz a frase antológica, digna de um frasista como Nelson Rodrigues: “O sábado é uma ilusão”. Sim, o sábado é uma ilusão. Então, lembre de viver também de segunda a sexta."

Au revoir! 

powderpuff blue por jaki good


2 comentários:

  1. Olá Dea,

    Gostei do post e do texto, vou ver o filme.
    Entendo sua angústia, é como se o tempo não passasse e isso é um martírio para se conseguir o tão sonhado objetivo. Além das adversidades que podem ocorrer, como vc disse. Sua felicidade não vai chegar quando seu processo acabar, vc sentirá um alívio momentâneo, mas passa. Outras dificuldades virão. Tenho pensado muito sobre a felicidade e não tenho encontrado resposta, talvez não haja. Então, tento encarar as amarguras e contratempos como um tempero para se atingir a felicidade, pq tudo que é conseguido com facilidade não tem gosto, parece insoso, o contrário seria, se tivéssemos sofrido para conquistar o que tanto sonhamos. Como diria o poeta, tristeza não tem fim, felicidade sim.

    Torço por vc!
    abraço

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    Respostas
    1. Oi Izabel!
      Pois é, mais uma semana se passou e nada de novidades. O jeito é respirar fundo e ir vivendo, uma hora sai!
      Um abraço forte!

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