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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

One day at the General Hospital

No último post eu disse que não queria mais exames médicos, mas acabei indo parar no hospital.

Aconteceu que depois do tombo eu fiquei bem até a hora de deitar, mas nem consegui colocar a cabeça no travesseiro. O quarto começou a girar, deu enjôo, fiquei nervosa e aí tudo piorou.

O seguro queria que eu fosse numa walk-in clinic de manhã, só que eu sabia que não ficaria tranquila sem examinar a minha cabeça e ouvir do próprio médico que não aconteceu nada mais grave. Eles não fazem esses exames no posto.

Resumo da ópera: disse pro seguro que ia no hospital mesmo e cheguei lá com tontura, vista meio embaçada e ouvido estranho. Se eu continuasse lendo o Dr google, tenho certeza de que iria apresentar ainda mais sintomas de tudo de pior que poderia me acontecer nesses casos!

Achei que a espera seria longa mas fui atendida imediatamente! o que, confesso, acabou me deixando ainda mais assustada. Fui parar na sala de emergência do hospital, com aquela porcaria de pescoceira me machucando, como se já não tivesse movimentado o pescoço o suficiente nas últimas 12 horas. Mas, "é a norma".

Depois, começaram as perguntas sem fim, para muitas das quais não lembraria a resposta, nem se não tivesse batido a cabeça. "Alguma doença?" Caraca. E o medo de esquecer algo que já tive? Certeza que já tive alguma doença. "Falta de memória, serve?!" Lembrei que tive um problema com a tireoide e engordei 9 quilos. Aliás, agora engordei 15, vai saber se não voltou?! "Tive hipotireoidismo há alguns anos", falei. "Toma remédio?" perguntou, enquanto preenchia a ficha. Respondi que me tratei com homeopatia, já esperando o olhar de recriminação: "as pessoas não acreditam, mas me tratei com homeopatia e sarou". Então ela finalmente me olhou e disse baixinho: "eu acredito, porque eu fiz a mesma coisa."

Quem diria...

Entrei na sala na maca, tipo cena de filme, nem queria olhar para as pessoas do lado. Nessa altura, a emergência inteira tava rodando. "Hello? Eu não disse que não podia encostar a cabeça?". Pra ajudar, fiquei sozinha e o Cé foi pagar o atendimento. Foi então que veio uma senhorinha enfermeira e me perguntou se tinha frio. Nem lembrava do frio! Tava congelada e nem tinha percebido! Ela foi um anjo e me trouxe um cobertor quentinho, saído da máquina, que me ajudou a me acalmar.

Aí veio outra enfermeira, mais jovem, e disse que ia me dar remédio pro enjôo e pra dor. Eu que não gosto de tomar remédio a toa, disse que pra dor não precisava. Era só a dor da pancada mesmo e do galo que ficou.

Uma hora depois, veio um estagiário da McGill. Ele se apresentou e me examinou por muito tempo. Fez mil perguntas e sentou num computador ali na minha frente. Parece que escreveu um relatório.

Depois de mais umas 2 horas veio o médico. Conversou com ele e ouvi quando disse que nesses casos escaneiam a cabeça, só pra tirar a dúvida. Veio falar comigo, disse que ia fazer o exame e que poderia chamar um oftalmo se eu quisesse. Achei melhor não, com medo da facada do seguro. O exame na cabeça tava de bom tamanho.

Começou a chegar gente. Quando era ambulância, acendia uma luz giratória azul, igual de polícia. No mais, parecia uma empresa. Mulheres organizando os horários, médicos discutindo casos, estagiários aprendendo e a gente ali, meio que invisível. Mas até aí tudo bem, nada de pânico, um pé inchado aqui, um olho roxo ali, e o Ce já tinha voltado e tava lá comigo esperando o exame.

O problema foi quando a emergência lotou e me colocaram no corredor. Aparentemente, não precisava mais ser monitorada. Aí começou a avacalhação. Sempre que entrava ou saía alguma maca da emergência, enroscavam  na minha cama e me davam tranco sem piedade. Muita raiva.

Depois de mais umas 2 horas de espera, veio um cara me levar pra fazer o exame. Tive que deitar numa prancha, mesmo podendo andar até a sala. "A cabeça só gira quando deito!", tentei explicar. "Sinto muito, é a norma".

Fui com a cabeça batendo na porcaria da prancha porque o cara foi incapaz de colocar um lençol embaixo do machucado. Tentei balbuciar que tava com dor e ele, sem olhar na minha cara, disse que não podia por absolutamente nada. E foi me arrastando sem cuidado algum, mirando em todos os desníveis que pudessem me machucar.

Quando chegamos no andar do exame, o barbeiro estacionou a minha maca em outro corredor e se foi, sem dar explicação. Fiquei com tanta raiva que me levantei e sentei na maca - rebeldia-mor que fui capaz! Então veio um cara bonzinho, disse que eu não podia fazer isso e colocou uma toalha entre o meu machucado e a prancha dura. "It's all I wanted", deixei claro.

Fiz o exame com outra moça muito querida, que até elogiou minha unha...rs. E eu ali, só querendo que o dia terminasse bem. Toca pro corredor de novo, até alguém poder me buscar. Depois de meia hora veio outro cara e me levou de volta pro outro corredor. Agora com toalhinha... "ué, e a norma?" grrrr

Mais umas duas horas levando trombada no corredor, esperando o resultado.

Cada ambulância que chegava, meia hora a mais.

Mas pra quem espera processo de imigração, meu amigo, 8 horas é mamão com açúcar!

Foi quando veio uma enfermeirinha, já bem de idade (que, aliás, toda hora passava e sorria pra mim com os olhos), e me mudou de vaga. Procurou a "responsável", que não estava, e me disse, em tom de segredo: "aqui vai ser melhor pra vc. Se alguém perguntar, diz que a fulana te mudou de lugar". Fulana era ela, e eu não tive a decência de decorar o nome. Mas saber que tem gente que se importa, que não cumpre apenas o que é determinado, que nota a sua presença e te ajuda a troco de nada, me fez um bem danado.

Finalmente o médico lembrou de mim e me disse que não deu nada no exame, que podia ir, mas que poderia continuar tendo tontura por dias, semanas e até meses, em alguns casos. Afe! Perguntei se era pra tomar algum remédio e ele disse: tylenol. Foi tudo.

A consulta acabou ali no corredor, sem cerimônias.

Bateram a minha cabeça na maca, machucaram meu braço pra espetar a seringa, fiquei com dor no pescoço, passei fome e desembolsei 847 dólares, os quais, espero, sejam reembolsados em alguns meses. Mas pelo menos sei que essa tontura que continuo sentindo até hoje é "normal" e que existem enfermeiras muito queridas no General Hospital.


6 comentários:

  1. Putz, Dea!
    Que m%#@* !!!
    Sinto muito por essa situação toda!
    Nunca tinha lido muitos relatos sobre o sistema de saúde, ou melhor, sobre a experiência nua e crua no sistema de saúde quebeca. Confesso que não gostei muito do que li aqui por vários motivos e principalmente por saber que vc ainda não tá legal do tombo. ):
    Se cuida e dê notícias!
    Beijos & Boa semana
    Nilian

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  2. Nossa Dea, que perrengue vc passou não? Mas que bom que não era nada, menos mal! Agora é só se recuperar e logo essa tontura vai passar!

    Como dizia o meu pai quando eu falava que eu estava com tontura: mas como com tontura se você já é tonta??? Piadinha ruuuiiim!

    Beijos

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  3. sei que passar por uma experiência hospitalar é um saco, mas me alegra o coraâo profissional ler ... * "aqui vai ser melhor pra vc. Se alguém perguntar, diz que a fulana te mudou de lugar** ... enfermeiros devem fazer isso mesmo, olha a PESSOA que esta ali, tentar fazer o melhor para judar a passar por essa experiência de saude *ou de doença) de uma maneira menos traumatizante (ah, eu e Parse) ....

    espero que esteja melhor. Se tiver vômitos, pontinhos pretos flutuantes ou sensaçao de que esta num barco, ja sabe = volte pra urgência.

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  4. Oi Dea que susto!!!!!
    Estamos orando por voces e que tudo termine muito bem!
    Abraços
    Carlos Henrique

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  5. Oi Dea, nossa, que angústia você deve ter passado! É difícil acharmos profissionais que se preocupam com a pessoa antes do "serviço" em qualquer lugar, ainda bem que existem os que tem vocação, como a senhorinha, que soube te enxergar no meio da confusão toda que deviam estar os corredores. Te desejo melhoras! Abraço, Ana.

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  6. Muito obrigada pela força gente, as tonturas passaram. Ufaaa! :)

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