No último post eu disse que não queria mais exames médicos, mas acabei indo parar no hospital.
Aconteceu que depois do tombo eu fiquei bem até a hora de deitar, mas nem consegui colocar a cabeça no travesseiro. O quarto começou a girar, deu enjôo, fiquei nervosa e aí tudo piorou.
O seguro queria que eu fosse numa walk-in clinic de manhã, só que eu sabia que não ficaria tranquila sem examinar a minha cabeça e ouvir do próprio médico que não aconteceu nada mais grave. Eles não fazem esses exames no posto.
Resumo da ópera: disse pro seguro que ia no hospital mesmo e cheguei lá com tontura, vista meio embaçada e ouvido estranho. Se eu continuasse lendo o Dr google, tenho certeza de que iria apresentar ainda mais sintomas de tudo de pior que poderia me acontecer nesses casos!
Achei que a espera seria longa mas fui atendida imediatamente! o que, confesso, acabou me deixando ainda mais assustada. Fui parar na sala de emergência do hospital, com aquela porcaria de pescoceira me machucando, como se já não tivesse movimentado o pescoço o suficiente nas últimas 12 horas. Mas, "é a norma".
Depois, começaram as perguntas sem fim, para muitas das quais não lembraria a resposta, nem se não tivesse batido a cabeça. "Alguma doença?" Caraca. E o medo de esquecer algo que já tive? Certeza que já tive alguma doença. "Falta de memória, serve?!" Lembrei que tive um problema com a tireoide e engordei 9 quilos. Aliás, agora engordei 15, vai saber se não voltou?! "Tive hipotireoidismo há alguns anos", falei. "Toma remédio?" perguntou, enquanto preenchia a ficha. Respondi que me tratei com homeopatia, já esperando o olhar de recriminação: "as pessoas não acreditam, mas me tratei com homeopatia e sarou". Então ela finalmente me olhou e disse baixinho: "eu acredito, porque eu fiz a mesma coisa."
Quem diria...
Entrei na sala na maca, tipo cena de filme, nem queria olhar para as pessoas do lado. Nessa altura, a emergência inteira tava rodando. "Hello? Eu não disse que não podia encostar a cabeça?". Pra ajudar, fiquei sozinha e o Cé foi pagar o atendimento. Foi então que veio uma senhorinha enfermeira e me perguntou se tinha frio. Nem lembrava do frio! Tava congelada e nem tinha percebido! Ela foi um anjo e me trouxe um cobertor quentinho, saído da máquina, que me ajudou a me acalmar.
Aí veio outra enfermeira, mais jovem, e disse que ia me dar remédio pro enjôo e pra dor. Eu que não gosto de tomar remédio a toa, disse que pra dor não precisava. Era só a dor da pancada mesmo e do galo que ficou.
Uma hora depois, veio um estagiário da McGill. Ele se apresentou e me examinou por muito tempo. Fez mil perguntas e sentou num computador ali na minha frente. Parece que escreveu um relatório.
Depois de mais umas 2 horas veio o médico. Conversou com ele e ouvi quando disse que nesses casos escaneiam a cabeça, só pra tirar a dúvida. Veio falar comigo, disse que ia fazer o exame e que poderia chamar um oftalmo se eu quisesse. Achei melhor não, com medo da facada do seguro. O exame na cabeça tava de bom tamanho.
Começou a chegar gente. Quando era ambulância, acendia uma luz giratória azul, igual de polícia. No mais, parecia uma empresa. Mulheres organizando os horários, médicos discutindo casos, estagiários aprendendo e a gente ali, meio que invisível. Mas até aí tudo bem, nada de pânico, um pé inchado aqui, um olho roxo ali, e o Ce já tinha voltado e tava lá comigo esperando o exame.
O problema foi quando a emergência lotou e me colocaram no corredor. Aparentemente, não precisava mais ser monitorada. Aí começou a avacalhação. Sempre que entrava ou saía alguma maca da emergência, enroscavam na minha cama e me davam tranco sem piedade. Muita raiva.
Depois de mais umas 2 horas de espera, veio um cara me levar pra fazer o exame. Tive que deitar numa prancha, mesmo podendo andar até a sala. "A cabeça só gira quando deito!", tentei explicar. "Sinto muito, é a norma".
Fui com a cabeça batendo na porcaria da prancha porque o cara foi incapaz de colocar um lençol embaixo do machucado. Tentei balbuciar que tava com dor e ele, sem olhar na minha cara, disse que não podia por absolutamente nada. E foi me arrastando sem cuidado algum, mirando em todos os desníveis que pudessem me machucar.
Quando chegamos no andar do exame, o barbeiro estacionou a minha maca em outro corredor e se foi, sem dar explicação. Fiquei com tanta raiva que me levantei e sentei na maca - rebeldia-mor que fui capaz! Então veio um cara bonzinho, disse que eu não podia fazer isso e colocou uma toalha entre o meu machucado e a prancha dura. "It's all I wanted", deixei claro.
Fiz o exame com outra moça muito querida, que até elogiou minha unha...rs. E eu ali, só querendo que o dia terminasse bem. Toca pro corredor de novo, até alguém poder me buscar. Depois de meia hora veio outro cara e me levou de volta pro outro corredor. Agora com toalhinha...
"ué, e a norma?" grrrr
Mais umas duas horas levando trombada no corredor, esperando o resultado.
Cada ambulância que chegava, meia hora a mais.
Mas pra quem espera processo de imigração, meu amigo, 8 horas é mamão com açúcar!
Foi quando veio uma enfermeirinha, já bem de idade (que, aliás, toda hora passava e sorria pra mim com os olhos), e me mudou de vaga. Procurou a "responsável", que não estava, e me disse, em tom de segredo: "aqui vai ser melhor pra vc. Se alguém perguntar, diz que a fulana te mudou de lugar". Fulana era ela, e eu não tive a decência de decorar o nome. Mas saber que tem gente que se importa, que não cumpre apenas o que é determinado, que nota a sua presença e te ajuda a troco de nada, me fez um bem danado.
Finalmente o médico lembrou de mim e me disse que não deu nada no exame, que podia ir, mas que poderia continuar tendo tontura por dias, semanas e até meses, em alguns casos. Afe! Perguntei se era pra tomar algum remédio e ele disse: tylenol. Foi tudo.
A consulta acabou ali no corredor, sem cerimônias.
Bateram a minha cabeça na maca, machucaram meu braço pra espetar a seringa, fiquei com dor no pescoço, passei fome e desembolsei 847 dólares, os quais, espero, sejam reembolsados em alguns meses. Mas pelo menos sei que essa tontura que continuo sentindo até hoje é "normal" e que existem enfermeiras muito queridas no General Hospital.